Como surgiu o interesse pela música?
Os meus pais sempre foram muito ligados às artes – música, pintura e tudo mais. Surgiu nesse ambiente, quando ainda era criança. Houve uma altura em que eu e o meu irmão pedimos aulas de piano à nossa mãe e, a partir desse momento, foi só música [risos].
Tu tocas és multi-instrumentista. O piano surge primeiro, a guitarra depois. Como é que se criou essa dinâmica?
Comecei a tocar piano com oito anos. Aos 13, experimentei tocar guitarra e recebi uma no meu aniversário. Apaixonei-me pelo instrumento e fiz a transição para a guitarra. Como cresci rodeado de amigos músicos e também tendo uma banda onde existem vários instrumentos, íamos trocando, experimentando e aprendendo uns com os outros.
A superação pessoal é um tema presente neste disco. O nome do álbum “Lá Vem o Sol” é uma mensagem de otimismo?
É. Acho que está muito explícito no nome, não é? Ou seja, passamos e vamos passar por maus bocados, indecisões e melancolias da vida, mas ao fundo do túnel há sempre uma luz. “Lá Vem o Sol” é isso: no final disto tudo acho que o sol sempre virá.
As músicas do álbum também foram lançadas por fases. Explica-nos a lógica por detrás deste lançamento. As músicas têm uma ordem específica para ser ouvidas?
Sim, queria que cada parte do disco tivesse a sua identidade. A sua assinatura. As músicas em conjunto com o disco, ou seja, estas partes fazem todas sentido serem escutadas assim. Escutar a primeira parte, depois a segunda e, por fim, a terceira. É um bocado como as estações, cada parte transmite uma sensação e acho que em conjunto lá está “fazem vir o Sol”.
E que sensações queres transmitir com cada fase?
Acho que a terceira fase é mais a de nos apercebermos que existem coisas pendentes e negras. Mas, ao mesmo tempo, é a parte da superação. Ou seja, começa-se com a “Quero ficar”, que é uma canção que fala sobre querer ficar num sítio onde não se sente correspondido. A “4 da Manhã” fala também um bocado sobre essa dualidade, esses problemas de querer ter algo, mas não saber bem como o fazer. Depois, a “Lá Vem o Sol” que é a que termina e dá o nome ao disco. A terceira parte do disco envolve o falarmos do problema e a sua superação. A parte do meio do disco creio que é aquela sensação de me reinventar, tanto a nível artístico como sonoro. Acho que essa é a parte que reflete mais o bem-estar. A primeira parte remete para aquela indecisão e vontade de ter mais certezas na vida e de ser feliz.
««O The Weeknd é o melhor exemplo de pop moderna misturada com pop dos anos oitenta e feito da melhor maneira possível.»»
Filipe Karlsson
Em 2022, descreveste o teu EP “Mãos Atadas” como uma “ponte entre a pop dos anos 80 e a música alternativa dos nossos tempos”. Continuas a explorar essa sonoridade em “Lá Vem o Sol”?
Sim, acho que sim. É sempre um processo, estar sempre a experimentar, à procura de novas sonoridades e tentar misturar com a música de hoje, apesar de ir buscar muito das minhas influências ao passado. Procuro dar aquele lado pop e aquelas melodias que são mais modernas do que propriamente dos anos oitenta. Mas na produção, sem dúvida, vou buscar muito aos anos 70, 80 e 90.
A verdade é que nasceste várias décadas depois. O que te atrai nessas décadas musicalmente e não só?
Penso que na altura da transição dos anos 70 para os anos 80, quando as coisas começam a ficar um bocado mais digitais, é onde se passou a caprichar mais nos efeitos e a realizar uma maior exploração musical. Nasceram muitas coisas fora da caixa com as quais me acabo por identificar. Se calhar, também por influência, fiquei com fascínio em relação a grandes artistas como Michael Jackson, Prince, os Dire Straits, entre outros.
Há alguma herança musical e não só dos anos 80 que sintas que é vivida hoje pelos jovens?
Penso que foi uma era que marcou muitas pessoas. Apesar de já ter passado, é uma época onde se fez tão boa música que é inevitável que os artistas tenham a necessidade de sacar uma coisa aqui ou ali. Como vemos muito em muitos artistas da pop, com misturas dos anos oitenta. O The Weeknd é o melhor exemplo de pop moderna misturada com pop dos anos oitenta e feito da melhor maneira possível.
Em algumas das tuas músicas mais conhecidas, é fácil de apreender um tom "celebratório" ou "leve". Dirias que é algo que procuras ativamente? Quais são algumas das mensagens que mais tentas passar nas tuas músicas?
Se forem ouvir o meu reportório tento sempre passar uma mensagem positiva e acho que isso se reflete na minha personalidade. Tornou-se muito óbvio que eu sou uma pessoa que tento sempre aconselhar e ser uma mão amiga. Claro que neste disco explorei outras vertentes, falando mais sobre mim, sobre aquilo que quero e as minhas melancolias.
Este trabalho é descrito como “pessoal e introspetivo”. O que é que queres que o ouvinte sinta com as tuas músicas?
Quero que seja self-help [auto-ajuda] para as pessoas. Penso que as pessoas refletem muito na música que ouvem, porque acabamos por ser todos muito diferentes, mas ao mesmo tempo muito parecidos. Vivemos histórias com detalhes bastante diferentes, mas o sentimento acaba por ser o mesmo e acho que neste disco falo sobre muitas coisas pessoais onde outras pessoas se podem rever. Tenho recebido mensagens de pessoas que estavam a passar por maus bocados e que me contam que a minha música as ajudou a passar por esses momentos.
Tens um projeto em colectivo – os Zanibar Aliens. A partir do momento que iniciaste o teu percurso a solo, o que é que vieste a descobrir sobre ti musicalmente?
Descobri que sou bem capaz de fazer música. De fazer isto tudo sozinho. Nunca estive habituado a isso, mas desde que comecei como Filipe Karlsson foi uma batalha que acho que conquistei. Sou mais feliz do que nunca.
««Tenho recebido mensagens de pessoas que estavam a passar por maus bocados e que me contam que a minha música as ajudou a passar por esses momentos.»»
Filipe Karlsson
No teu projeto a solo também surgiu a escolha de cantar em português. O que tens vindo a descobrir sobre esta opção? É mais fácil ou mais difícil?
Já disse que era mais fácil, que era mais difícil, mas acho que é igual na essência. Às vezes se calhar pomos muita pressão. No português, como é que tem de soar e como é que as coisas têm de ser. Penso que as coisas não têm de ser de forma alguma. Tanto pode ser mais fácil escrever português, como pode ser fazê-lo em inglês. Também depende da própria pessoa.
Tu já atuaste no Rock in Rio. E recebeste o artista MTV PUSH do mês, ainda antes de lançar o teu primeiro longa duração. Como é que te sentiste quando isso aconteceu?
O ano passado foi ótimo. Foi um ano de consolidação, de dar muitos concertos. Também terminei este disco. Foi divertido e fui bem recebido em todo o lado a que fui. Claro que o Rock in Rio foi destaque.
O que é que podemos esperar do Filipe no que resta de 2025?
Podem esperar um grande concerto em Lisboa, no dia 4 de dezembro. Vou fazer o meu primeiro Coliseu, um concerto 360º. Podem esperar muitas surpresas e, claro, convidados.